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1ª Sessão | September 23, 2019  | 317 Lotes

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JOSÉ MALHOA - 1855-1933 O preto caiador ("O duque das cidades d’Africa"?) óleo sobre tela reentelado, pequenos restauros antigos, pequenas faltas na pintura assinado (1886) Dimensões (altura x comprimento x largura) - 45 x 37 cm Notas: 1.
"Bem documentado em diversas fontes, literárias e iconográficas, desde o século XVIII, o "Preto caiador" foi uma das figuras mais populares das ruas da Lisboa oitocentista, embora a possamos também encontrar noutras cidades do país, bem como no Brasil.
Segundo refere António Francisco Barata, em 1877, habitavam as ruas sinuosas do Bairro do Mocambo, em particular, numa travessa estreita junto ao Convento das Trinas, com casinhas de um andar, ou sobrelojas, muito bem caiadas, que davam à travessa uma certa alegria.
Já no século XIX, era mais comum encontrá-los no Rossio, onde esperavam os fregueses, ou circulando pela cidade, com a sua cana e o "bião da cal", de que se conhecem diversas gravuras e ilustrações.
Malhoa revela-se neste quadro como um eminente autor da "Perpetua chronica pitoresca dos costumes d’uma cidade ou d’um povo", conforme o apelidava Monteiro Ramalho, a propósito da crítica ao sexto salão do "Grupo do Leão" de 1886. Não obstante a impossibilidade de se descortinar a existência de uma data, por baixo da assinatura, cremos poder tratar-se do quadro "O duque das cidades d’Africa" que consta do catálogo daquele certame, ao lado do conhecido "O Bando de S. Jorge". A pintura integra-se portanto no crescente interesse de Malhoa pela representação de figuras típicas e populares da cidade de Lisboa, iniciada em 1879 com a "Vendedora de cautelas", ou a "Peixeira", e depois prosseguindo com outras actividades profissionais tradicionais, num percurso que atingirá o seu expoente máximo no famoso "O Fado", em 1910. O peculiar título da pintura, face ao representado, não é de todo inusitado, tendo em conta o conhecido sentido satírico de algumas das suas obras, revestindo-as de um carácter crítico, e irónico, que estão para além da simples importância documental, cultural e etnográfica. Note-se a "postura aristocrática" com que o caiador é representado, em pose, segurando a cana como se fosse um bastão, ou lança, numa pintura de costumes tornada retrato, bem diferente da habitual imagem do humilde trabalhador anónimo percorrendo as ruas de Lisboa.  
A comprovar esta hipótese, estará o facto de o pintor ter apresentado, naquela mesma exposição, diversas obras figurando negros, como relatava Monteiro Ramalho, referindo-se a um Estudo de Cabeça ali presente: "o pintor enthusiasta sympathisou decididamente com a carapinhosa raça negra".
Também a isto não será estranha a publicação, no ano seguinte, do célebre Álbum de Costumes Portugueses, editado por David Corazzi, e ilustrado por diversos artistas, como Alfredo Roque Gameiro, Columbano Bordallo Pinheiro, Condeixa, Manuel de Macedo, Raphael Bordallo Pinheiro, e o próprio Malhoa. Entre as imagens de ofícios desempenhados por africanos em Lisboa, Júlio César Machado e Fialho de Almeida descrevem precisamente três: "O Preto Caiador", o "Preto de S. Jorge", e a "Preta do Mexilhão".
Estamos, sem dúvida, a vários níveis, perante uma pintura de grande valor, e particular interesse. Por um lado, para o conhecimento da obra de Malhoa, pela imagem inédita - agora recuperada do alheamento público a que esteve votada durante mais de um século - e pelo belo exemplar da evolução da carreira como pintor de "género", mas também pelo carácter documental, social e antropológico, através da figuração do quotidiano e dos costumes de Lisboa dos finais do século XIX."

Nuno Saldanha

A Cabral Moncada Leilões regista e agradece ao Prof. Doutor Nuno Saldanha o enquadramento histórico e artístico da obra em causa.

2.
Obra inventariada em SALDANHA, Nuno - "José Malhoa Catálogo Raisonné". Lisboa: Scribe, 2012, p. 107, nº CRJM/0306, onde se encontrada datada de 1886, estando à altura da edição com paradeiro desconhecido.





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