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2ª Sessão | February 26, 2019  | 360 Lotes

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Crucifixo-Relicário - pendente de peito Lusíada - Arte Namban liga de cobre dourada e prateada decoração relevada com fundo lacado a negro: numa face "Cristo crucificado encimado por cartela com inscrição INRI e a Seus pés uma caveira e dois ossos cruzados"; noutra face "Nossa Senhora da Conceição encimada pela Pomba do Espírito Santo, ladeada por Anjos esvoaçantes e a seus pés um ramo de crisântemos"; nas faces laterais "Símbolos da Paixão de Cristo" período Momoyama (1573-1615) algum desgaste no dourado, falta da «patilha» interior da tampa, ligeiro concerto na dobradiça Dimensões (altura x comprimento x largura) - 14,5 cm Notas: integrou o leilão "Aesthetic Intuition: Collecting Japanese Art in Post War London". Londres: Christie's - King Street, 11 November 2015, lote nº 142.

Vd. CRESPO, Hugo Miguel - "Jóias da Carreira da Índia", Catálogo da Exposição. Lisboa: Museu do Oriente, 2014-2015, pp. 62 e 195, nº 110;
e "São Roque Antiguidades - 2017", Catálogo. Lisboa: São Roque Antiguidades e Galeria de Arte, 2017, pp. 194-196, nº 153;
e RIBEIRO, José Alberto (coord.) - "Uma História de Assombro - Portugal - Japão - Séculos XVI-XX", Catálogo da Exposição patente na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, Palácio Nacional da Ajuda. Lisboa: DGPC - Palácio Nacional da Ajuda / Ministério dos Negócios Estrangeiros - Instituto Diplomático, 2018, p. 65.

Encontram-se Crucifixos-Relicários Namban no Museu Victoria & Albert, em Londres, e no Museu Nacional de Tóquio, no Japão.

Pedido prévio de exportação de bem cultural móvel    

Tendo a Cabral Moncada Leilões apresentado oportunamente à Direcção Geral do Património Cultural um pedido prévio de exportação de bem cultural móvel relativamente ao crucifixo-relicário em causa, cumpre-nos comunicar que através do ofício CS 1324232  de 8.2.2019, a DGPC informou que não tenciona adquirir, nem abrir procedimento administrativo de classificação do referido bem, sendo o mesmo, consequentemente, susceptível de exportação.

Seis anos depois da chegada dos portugueses à longínqua ilha de Tanegashima, foi enviado por D. João III, em 1549, o primeiro grupo de jesuítas para o Japão, do qual fazia parte São Francisco Xavier (1506-1552). A Companhia de Jesus foi bem recebida e soube adoptar as estratégias correctas para as milhares de conversões que conseguiu: apostou primeiramente na conversão dos daimyos — os senhores das terras ou governantes provinciais — que posteriormente convertiam os seus súbditos, e participou activamente nas trocas comerciais, usando esse papel de intermediário como um instrumento de propagação do Cristianismo. A presença portuguesa no Oriente deixou fortes marcas em diversas áreas, como a militar, científica ou gastronómica, mas também na arte. A Companhia de Jesus, sendo a ordem religiosa com maior número de instituições fundadas na Ásia, reforçou e influenciou a produção artística japonesa, uma vez que, em prol da explicação dos ensinamentos inacianos, de muito se serviram da arte como meio de catequização. A arte namban — ou namban-bijutsu — é fruto desta influência temática e estilística causada pela presença portuguesa no arquipélago nipónico e decorre da expressão namban-jin (“bárbaros do Sul”) usada pelos japoneses para designar este povo exótico que chegava à sua terra. Foi essencialmente produzida durante o “Século Cristão” do Japão, que historicamente se limita entre a chegada dos portugueses (1543) e o ano em que se implementou uma lei – Sakoku – que restringia a entrada e saída de pessoas do país (1639), depois do édito de proibição do Cristianismo (1614) e do Massacre de Shimabara (1637-1638), que obrigou ao secretismo cristão.

Este crucifixo é um dos raros exemplos de arte namban em metal datável dos finais do século XVI ou inícios do século XVII. A liga metálica usada é uma mistura de, maioritariamente, cobre e ouro, sendo conhecida pelo termo Sawasa (derivação de Suaka – vermelho). Podia também apresentar uma patine negra conhecida por Shakudo (literalmente, cobre vermelho), como vemos neste caso.
As faces são decoradas através de uma detalhada técnica de cinzel e punção denominada nanako. Nas menores, são-nos apresentados os instrumentos da Paixão de Cristo enquanto que, nas maiores, em relevo, surgem as figuras de Cristo Crucificado e de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cujo douramento acabou por contaminar o fundo, originado uma espécie de sombra dourada, como era costume acontecer com esta técnica decorativa. O interior é compartimentado para a salvaguarda de relíquias, altamente valorizadas na altura.

Esta peça, provavelmente encomendada em Nagasaki, leva-nos a crer que terá pertencido a uma figura importante – quer seja um jesuíta português ou um japonês convertido – tendo em conta a riqueza dos seus materiais, detalhe decorativo e finalidade relicária.

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