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1ª Sessão | February 26, 2018  | 365 Lotes

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euro_symbol€ 35,000 - 52,500 Base - Estimativa

gavel€ 75,000Vendido

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ÁLVARO PIRES DE ÉVORA - act. 1411-1434 São Cosme têmpera e folha de ouro sobre madeira escola italiana restauros Dimensões (altura x comprimento x largura) - 28 x 21,5 cm Notas: Bem em vias de classificação, insusceptível de exportação

Procedimento administrativo de classificação da pintura "São Cosme", da autoria de Álvaro Pires de Évora
Através do ofício DPIMI/2018/H (01) CSP: 169110, de 30.1.2018 a Direcção Geral do Património Cultural notificou a Cabral Moncada Leilões de que, por despacho de 29.1.2018, foi determinada a abertura do Procedimento administrativo de classificação da pintura em causa.
Estando em vias de classificação a pintura fica sujeita às restrições estabelecidas na legislação aplicável, para que se remete, chamando-se a atenção em particular para a insusceptibilidade da sua exportação.



Um São Cosme de Álvaro Pires de Évora
Álvaro Pires de Évora foi um pintor português documentado na região da Toscana, em Itália, entre 1411 e 1434. A primeira data corresponde à sua documentada integração num grupo de pintores florentinos encarregados de pintar a fachada do palácio del Ceppo, em Prato, pertencente ao mercador e banqueiro Francesco Datini. A segunda data corresponde à inscrição no retábulo do Museu de Brawnschweig e é a mais avançada referência à sua obra. Quase sem documentos conhecidos sobre a sua atividade, a biografia deste pintor decorre das pouco mais de 30 pinturas que lhe estão atribuídas, onde se inclui o retábulo da igreja de Santa Croce de Fossabanda, próximo de Pisa, que assinou “ALVARO PIREZ DEVORA PINTOV” . É por esta assinatura, e pela curta referência biográfica de Giorgio Vasari (1550) que o nomeia como “Alvaro di Piero di Portogallo”, que conhecemos a naturalidade de Álvaro Pires, português de nascimento, mas artisticamente enquadrado na pintura italiana.
Numa altura em que a pintura apenas despontava em Portugal, não se sabe a razão que levou Álvaro Pires a demandar Itália. Sabemos no entanto que D. João I teve ao seu serviço um pintor florentino, António Florentim, e que um pintor formado entre os continuadores  de Giotto, Gherardo Starnina, trabalhou em Castela e em Valência no fim do século XIV. A hipótese de Pires ter acompanhado Starnina no seu regresso a Itália, em 1401, tem sido considerada, mas também já foi colocada a possibilidade do pintor de Évora ter sido originalmente um ourives que se veio depois a tornar pintor, hipótese sustentada pela variedade e grande qualidade com que usa o punção sobre os fundos de folha de ouro. Pintando nas vésperas do Renascimento florentino, Álvaro Pires é ainda um pintor muito mais sensível aos ecos do Trecento italiano, com marcadas influências de Orcagna, de Starnina e de Turino Vanni. Apesar de formalmente ser um pintor claramente italiano, não deixa de ser o primeiro pintor nascido em Portugal a quem podemos seguramente atribuir uma obra artística.
A pintura agora em leilão foi autenticada por Frederico Zeri, um dos maiores especialistas da obra de Pires, e está referenciada no mercado de antiguidades londrino em 1977, altura em que pertencia ao antiquário Rafael Valls. Originalmente formava, com grande probabilidade, par com um São Damião, das mesmas dimensões, que se sabe ter pertencido à coleção T. Laurin de Estocolmo, foi depois vendido na Sotheby’s de Londres em 24 de Junho de 1970 e no ano seguinte estava nos antiquários Grassi, de Florença, desconhecendo-se o seu atual paradeiro.
Álvaro Pires pintou, pelo menos por três vezes, pares destas lunetas com os dois santos médicos Cosme e Damião, que coroavam painéis laterais de retábulos, normalmente dedicados à figuração de santos. O exemplar que se conserva íntegro existe na Pinacoteca e Museu Cívico de Volterra, com a Virgem com o Menino num maior painel central e dois painéis laterais com pares de santos, sobre os quais se situam as lunetas com os Santos Cosme e Damião. Outro retábulo, desarticulado, conserva-se na sua maior parte no Lindenau Museum de Altenburg, na Alemanha. Deste conjunto existem no museu os painéis laterais, um com os Santos Paulo e João Baptista e outro com os santos Pedro e André e um dos pequenos tondi representando São Cosme, muito semelhante à obra agora a leilão. É provável que tenha pertencido ao mesmo retábulo um outro São Damião, cujo paradeiro se desconhece, mas do qual existe uma reprodução na fototeca da Fondazione Zeri da Universidade de Bolonha (nº 11011).
Em todas estas representações dos Santos Cosme e Damião, Álvaro Pires utilizou o mesmo modelo masculino, com a mesma forma de rosto a ¾, com pouca barba, nariz direito e olhos rasgados, o mesmo tipo de vestido, de um vermelho pálido alaranjado, o mesmo barrete caído com um revirado de segmentos de pelo branco, e a mesma aureola larga decorada com a marcação de punção.  Klara Steinweg ligou estas representações dos Santos Médicos à estadia de Álvaro Pires em Volterra, onde o seu culto estava enormemente difundido. Álvaro Pires está documentado nessa cidade em 1423, data à volta da qual devemos situar este painel de São Cosme, quer pelo motivo invocado por K. Steinweg, quer pelo estilo, de pinceladas finas justapostas, criando modelações de sombra com rápidos e finos traços de pincel de diferentes tonalidades, técnica que podemos apreciar nesta obra e é característico da fase de maior maturidade do pintor.

Joaquim Oliveira Caetano
Historiador de Arte e Conservador

A Cabral Moncada Leilões regista e agradece ao Doutor Joaquim Oliveira Caetano o seu contributo para a descrição e enquadramento desta obra.

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