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1º GRANDE LEILÃO BORDALLO

Texto do Miguel Cabral de Moncada

 

É com grande satisfação que a Cabral Moncada Leilões apresenta o 1º Grande Leilão Bordallo, comemorativo dos 120 anos da morte da Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905).

Trata-se de um marco histórico porque nunca antes foi realizado um leilão exclusivamente dedicado às cerâmicas produzidas pela Bordallo Pinheiro.

O presente catálogo tem por objetivo servir de suporte à venda que se vai realizar, daí que se apresentem os valores de base de licitação e as estimativas propostas para cada um dos bens, não podendo a Cabral Moncada Leilões deixar de se congratular com a qualidade das peças seleccionadas para o presente leilão, sendo algumas delas de extrema raridade.

No entanto, com este catálogo pretende-se mais do que um mero suporte à venda que se vai realizar; pretende-se que ele passe a constituir uma referência na fixação de conhecimento da produção Bordallo Pinheiro, através: da procura da designação correcta para cada peça; da identificação do criador do modelo;  da colocação, em nota, da correspondente bibliografia onde são referidos e ilustrados exemplares idênticos aos agora colocados em leilão; e, finalmente, da reprodução das imagens das marcas e de inscrições contidas em cada peça.

Três fábricas e diversos directores artísticos foram responsáveis por 141 anos de produção de peças cerâmicas Bordallo Pinheiro.

A primeira das fábricas – a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha –, fundada em 1884 pelo grande e multifacetado artista que foi Rafael Bordallo Pinheiro e por ele dirigida até à sua morte em 1905, teve um enorme impacto no panorama da produção de cerâmica artística em Portugal e na sua difusão por todo o território nacional e pelo Brasil, tendo chamado a atenção para uma produção que, embora já existente há muito, estava praticamente confinada à região das Caldas da Rainha.

Para tal contribuiu decisivamente o prestígio que a «dinastia» Bordallo Pinheiro possuía na época e, sobretudo, a extraordinária capacidade artística e a enorme criatividade de Rafael Bordalo Pinheiro.

Após a morte de Rafael Bordallo Pinheiro em 1905, seu filho Manuel Gustavo, que já colaborava com o pai havia muito tempo, fez o possível e o impossível para manter a fábrica em laboração, o que conseguiu apenas até ao início de 1908, aquando da sua venda em hasta pública.

Inconformado com a perda da fábrica, Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro (1867-1920) fundou ainda em 1908, nos terrenos conhecidos por San Rafael, a Fábrica Bordallo Pinheiro que dirigiu até à sua morte. Tendo ficado proprietário dos moldes da fábrica original, Manuel Gustavo pôde manter a produção de modelos anteriormente criados por seu pai e por si próprio, acrescentando-lhes novos modelos da sua própria lavra, bem como de alguns outros artistas, como Vasco Bordallo Pinheiro Lopes de Mendonça (1881-1963), seu primo co-irmão.

Após o precoce falecimento, em 1920, de Manuel Gustavo, que tinha então apenas 53 anos, a fábrica foi em 1924, depois de efémeras transferências de propriedade para alguns familiares seus, adquirida maioritariamente por diversas personalidades das Caldas da Rainha, que constituíram uma nova sociedade para o efeito – a Fábrica de Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda. – a qual conservou as instalações e todo o espólio da anterior fábrica e que se mantem em laboração até à actualidade.

Resulta desta evolução a existência de vários períodos nas produções cerâmicas Bordallo Pinheiro, facto que ficou registado nas peças através das marcas de fábrica nelas colocadas: 1º período (1884-1905) – Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha sob direcção artística de Rafael Bordallo Pinheiro; 2º período (1905-1908) – continuação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, mas sob direcção artística de Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro; 3º período (1908-1920/1924) – Fábrica Bordallo Pinheiro sob direcção artística de Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro e, depois da sua morte, de alguns familiares seus; 4º período (desde 1924 até à actualidade) – Fábrica de Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro, Lda.

Para complementar a marca de fábrica colocada nos bens, nas peças produzidas entre 1895 (A) e 1955 (A10) foi adoptada uma marcação assente numa sucessão de letras e de letras com números que nos permite datar ao ano muitos dos bens produzidos. A respectiva listagem (que se encontra incluída no presente catálogo) permite perceber que as diversas fábricas referidas e as quatro fases acabadas de identificar constituíram um sistema contínuo de datação de peças que passou de uma fábrica para outra e de uma direcção artística para outra, deixando clara a ininterrupta continuidade de toda a produção.

No entanto, durante a identificação das peças que integram o presente catálogo deparámo-nos com alguns casos em que as marcas da fábrica aparentam não se conjugarem temporalmente com a data resultante da listagem de letras e números referida. Nessas peças, no final da sua identificação, colocámos um «[SIC]».

Se, por um lado, muitos dos desfasamentos temporais entre as diversas marcas colocadas numa mesma peça poderão derivar do facto de alguma das marcas já se encontrarem incluídas no molde, surgindo automaticamente, outros obrigarão a rever e a corrigir no futuro entendimentos até agora tidos como pacíficos e assentes sobre marcas de fábrica, suas datas de utilização e por quem foram utilizadas.

O caso mais flagrante é a frequência com que a marca tradicionalmente atribuída à Fábrica Bordallo Pinheiro sob direcção artística de Manuel Gustavo Bordallo Pinheiro (utilizada entre 1908 e 1920) aparece colocada em peças com marca de datação claramente anterior ou, até, com que aparece colocada juntamente (na mesma peça) com a marca da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (1884-1908), fazendo perceber que essa marca já seria utilizada no tempo de Rafael Bordallo Pinheiro, desaparecido em 1905.

A terminar, queremos realçar e agradecer a disponibilidade e a imprescindível colaboração técnica da Senhora Drª. Elsa Rebelo na selecção e peritagem das inúmeras peças que analisámos para a elaboração do presente catálogo e na sua correcta identificação, que só a sua vasta experiência e o seu profundo conhecimento da produção de cerâmica Bordallo Pinheiro, ao longo dos últimos 140 anos, o tornou possível.

Finalmente, cumpre-nos expressar o nosso reconhecimento à Administração da Bordallo Pinheiro, na pessoa do senhor Dr. Nuno Barra, pela confiança depositada na Cabral Moncada Leilões para a realização do presente leilão, agradecendo ao senhor Dr. João Pinto Basto todo o apoio e colaboração prestados e às senhoras Dras. Emília da Encarnação, Catarina Oliveira e Joana Margalha todo o trabalho de comunicação e de colaboração na elaboração do Design Gráfico do presente catálogo, bem como a toda a equipa da Cabral Moncada Leilões que contribuiu para a sua produção.

 

Lisboa, 25 de Setembro de 2025

Miguel Cabral de Moncada

Sócio-gerente da Cabral Moncada Leilões

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