O site da Cabral Moncada Leilões utiliza Cookies para proporcionar aos seus utilizadores uma maior rapidez e a personalização do serviço prestado. Ao navegar no site estará a consentir a utilização dos Cookies.Saiba mais sobre o uso de cookies

JOGO

Entre o Oriente e o Ocidente

O jogo une os povos porque usa uma linguagem universal. Os caminhos que os portugueses abriram entre oceanos aceleraram o processo de trocas e experiências de jogo. Ainda os portugueses não tinham tomado Malaca quando, em 1509, um dos capitães companheiros de Afonso de Albuquerque, Diogo Lopes Siqueira jogava xadrez a bordo e recebia o filho de um dos membros mais proeminentes da comunidade javanesa (Utimutiraja). Fazendo menção de parar o jogo, o javanês diz-lhe para prosseguir, pois também eles tinham aquele jogo, embora com muito mais figuras. Aproveitava a ocasião para, de um golpe, assassinar o capitão com um Kris. Mas um grumete na cesta da gávea, qual drone quinhentista, espia a cena e avisa o capitão, que, levantando-se, derruba o jogo de xadrez e precipita a fuga dos conspiradores. 

O jogo é em si mesmo uma batalha, mas é também a representação de uma luta física ou moral. Por vezes a preferência por este combate codificado em face da verdadeira guerra torna-se a metáfora perfeita do desprezo pelas coisas do mundo, da preponderância do espírito sobre a matéria. O conto persa sobre os dois príncipes que calmamente jogam o xadrez indiferentes à guerra que se desenrola tornou-se um tema repetido da cultura tanto no oriente como no ocidente.

A maior parte dos jogos, popularizados na Europa entre os séculos XVI e inícios do XIX, vieram (excetuando o Ganso) do Oriente; o Ocidente adaptou-os e muitas vezes devolveu-os ao Oriente, transformados em épocas posteriores, como foi o caso, por exemplo, do Gamão. 

Os jogos são também socialmente transversais, pois tanto podem ser jogados em simples tabuleiros riscados a giz no chão, usando pedras vulgares para representar os elementos que se movimentam, como podem ser executados nas mais ricas matérias, servindo como presentes diplomáticos ou elementos distintivos da posição social de quem os detém. 

Naturalmente, serão os requintados objetos para jogos que se apresentam aos interessados neste leilão. São peças maravilhosas, que representam esse encontro entre o Oriente e o Ocidente. Peças feitas em materiais preciosos, com técnicas de grande perícia, podendo ser utilizadas ainda hoje, ou preservadas pelos colecionadores e amantes das artes do jogo. 

Mais do que qualquer outro elemento da criação humana, os jogos são metáforas da arte da guerra que, ao travarem-se num tabuleiro, são afinal símbolos da paz e conciliação entre os povos.

Anísio Franco
Subdiretor do MNAA

Mensagem