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Sessão única | June 2, 2025  | 322 Lotes

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euro_symbol€ 3,500 - 5,250 Base - Estimativa

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O Sono do Menino Jesus óleo sobre cobre da escola de Óbidos, atribuído a um discípulo de Josefa de Óbidos, possivelmente Luís de Almeida escola Portuguesa séc. XVII (4º quartel) pequenos restauros verso com inscrição manuscrita JOSEFA... Dimensões (altura x comprimento x largura) - 25 x 19,5 cm Notas: A pequena pintura a óleo sobre cobre que representa Nossa Senhora do Silêncio (a  Virgem, com São João Baptista Menino, junto ao Menino Jesus que dorme) data do fim do século XVII e é, sem dúvida, um bom testemunho da pintura barroca portuguesa de
cariz devocional, destinada por certo a oratório conventual ou doméstico.
Trata-se da versão regional de um dos muitos temas de devoção popular criados após o Concílio de Trento e que tiveram grande projecção em todo o mundo católico a seguir à Contra-Reforma. O tema em causa conheceu diversas versões durante a segunda metade do século XVI e ao longo do século XVII, e foi tratado por grandes mestres europeus (caso da bolonhesa Lavínia Fontana, por exemplo). A fonte histórico-litúrgica remete para o capítulo primeiro do Cântico dos Cânticos de Salomão: Ecce tu pulcher es Dilecte mi, et decorus, lectulus noster floridur… («Beija-me com ósculos da tua boca; os teus amores (meu esposo) são melhores do que o vinho…». A cena alude, por isso, a valores de intimismo doméstico, caros a todas as devoções marianas. Com essa legenda vetero-testamentária surge legendada, por exemplo, numa gravura aberta em Antuérpia no fim do século XVI por Hieronymus Wierix, uma das muitas estampas que divulgaram este cânone compositivo na Europa e nos impérios católicos. Existem em Portugal, aliás, diversas versões seiscentistas deste tema (caso de uma tela anónima existente no mosteiro de São Francisco de Évora).
     Voltando a este interessante cobre, quero crer que foi produzido pela chamada escola de Óbidos em data avançada da segunda metade do século XVII. Tem no reverso uma inscrição, em letra posterior, onde se lê Josepha d’Ayalla, o que confere inequívoco valor histórico-artístico à peça, ainda que, por considerações decorrentes da análise estilística, a pintura não se possa dever a Josefa de Óbidos (1630-1684), pois o não consentem as suas características técnicas e formais. Não é caso único na sua obra, aliás, existirem obras que ostentam no reverso uma pseudo-assinatura de Josefa para autenticar uma pretensa atribuição sem fundamento. De facto, nem os rostos, nem a modelação simplificada dos panejamentos, nem o desenho rígido dos anjos, têm traço dos típicos e pessoalizados estilemas da Josefa. Trata-se, sim, de obra de algum dos pintores por si formados na chamada «escola de Óbidos» e lhe seguiram os modelos repertoriais. Conhecem-se hoje os seus nomes e obras, desde António Pinheiro do Lago e Manuel Pinheiro, moradores em Tentúgal, a Luís de Almeida, que trabalha no Santuário da Nazaré, a José da Costa Pereira, ao irmão Frei José de Ayala, e outros. Numa primeira observação, o desenho das figuras (a cabeça de São João impondo silêncio, por exemplo) recorda muito as telas da História e Milagres de Nossa Senhora da Nazaré do citado Luís de Almeida, de cerca de 1670-80, na sacristia do Santuário da Nazaré. Este secundário pintor (também activo em igrejas de Lisboa) fez cópias do Casamento místico de Santa Catarina de Josefa de Óbidos, uma delas por si assinada luis dalmeida fecit, com limitações de desenho e estilemas que se aproximam da bitola qualificativa deste cobre (sobre o citado Almeida, ver o catálogo da exposição Josefa de Óbidos e o tempo barroco, Palácio Nacional da Ajuda, IPPC, 1991).
    A confirmar-se esta presunção, o cobre em apreço seria obra de LUÍS DE ALMEIDA, discípulo e imitador de Josefa de Óbidos, em data tardia do século XVII.

Vítor Serrão
Historiador de Arte

A Cabral Moncada Leilões regista e agradece a disponibilidade do Professor Doutor Vítor Serrão pelo enquadramento histórico e artístico da obra em causa.

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