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Sessão única | September 26, 2022  | 344 Lotes

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Oratório grande de suspensão Lusíada madeira integralmente lacada a negro com incrustações de madrepérola e decoração a ouro "Animais diversos entre vegetação" faixas com círculos secantes, cimalha e interior das portas em talha baixa com decoração a dourado, interior com local para a colocação de uma pintura ou escultura de vulto, interior em madeira ebanizada, interior das portas com seis reservas ovais para pinturas sobre cobre ou relíquias, ferragens embutidas em ferro, tardoz pintado de vermelho vertente Sino-Portuguesa séc. XVII (princípios) falta da pintura principal e das pinturas nas reservas do interior das portas, restauros, reforços metálicos, faltas na decoração, falta do friso central das portas, falta do fecho Dimensões (altura x comprimento x largura) - (fechado) 94 x 66 x 9,5 cm; (aberto) 94 x 131 x 9,5 cm Notas: reproduzido em FERRÃO, Bernardo - "Mobiliário Português – vol. III – Índia e Japão", pp. 302-304, nº 529, onde se encontra identificado como sendo da vertente nipo-portuguesa – Namban do início do séc. XVII.

Um raro e importante oratório portátil de grandes dimensões, com duas portas, em madeira lacada (a negro) e dourada, que outrora terá albergando uma pintura devocional hoje perdida. Copiando a forma de um oratório portátil Namban, e usando técnicas de marcenaria tipicamente chinesas, o presente oratório, que se destinava a ser pendurado numa parede, foi produzido para devoção privada e usado nos círculos jesuítas para o trabalho missionário na Ásia. Para além das conhecidas lacas Namban - produção japonesa de exportação para o mercado europeu e objecto de estudo mais aprofundado, sendo mais fácil de identificar quanto ao repertório decorativo e técnicas utilizadas - outras produções de laca destinadas ao mercado português permanecem pouco estudadas. Estas peças lacadas, ditas luso-asiáticas, que têm resistido à identificação consensual do seu local de produção por parte de historiadores da arte, técnicos de conservação e conservadores, são um tanto heterogéneas, podendo ser divididas em dois grupos - veja-se Crespo 2016, cat. 22, pp. 238-61. Enquanto o primeiro foi identificado como de origem birmanesa, o segundo é chinês - veja-se Crespo 2016, cat. 25, pp. 288-303. Este último grupo, constituído sobretudo por arcas-escritório e escritórios de tampo de abater, mas também bandejas entalhadas e oratórios de maior dimensão, e também portáteis como o presente, apresenta, em geral, um mesmo tipo de decoração entalhada em baixo-relevo, com laca a negro realçada a ouro. Algumas das superfícies, nomeadamente, o interior das arcas e escritórios, são lacadas a vermelho com decoração a ouro representando fauna e flora de repertório tipicamente chinês.
A superfície lacada a negro deste oratório chinês de estilo Namban é decorada a folha de ouro e embutidos de madrepérola com motivos florais e animais tipicamente chineses. Sobre ramos da ameixeira chinesa ou prunus mume (símbolo de beleza, pureza e longevidade), carregados de flores, vemos pássaros de cauda longa e grandes pavões (o animal-atributo da deusa da compaixão, símbolos de divindade, beleza e estatuto social), e um par de tigres (símbolo de coragem e força). Os painéis das faces exteriores são bordejados por cercadura típica do repertório das lacas Namban, enquanto a decoração do interior das portas é entalhada com medalhões ovais (que teriam na origem pequenas pinturas devocionais ou mesmo pequenas relíquias), circundados por cartelas de tipo maneirista sobre fundo vegetalista. Também finamente entalhado, e na origem dourado, o frontão recortado remata o oratório, com uma grande roseta em forma de uma flor-de-lótus a meio. Análises recentes dos materiais (laca, óleos, etc.) identificaram as técnicas utilizadas no fabrico de objectos semelhantes, e revelaram como o revestimento da laca é combinado com a decoração entalhada e dourada, tal como observável na estratigrafia da sua aplicação - veja-se Körber, Schilling e Dias, 2016. Enquanto a laca utilizada foi identificada com a seiva da Toxicodendron succedaneum, conhecida por laccol (que cresce no sul da China, Vietname e Japão) e tipicamente usada no sul da China, as técnicas chinesas usadas, nomeadamente a decoração com folha de ouro (tiē jīn qī) e o reduzido número de aplicações e os materiais típicos da laca de qualidade inferior produzida para exportação, sugerem fortemente uma origem no Sul da China para estas peças - sobre estas técnicas tradicionais, veja-se Chang, and Schilling, 2016. Um oratório desta mesma produção, mais pequeno mas também melhor preservado, sem decoração entalhada, foi recentemente publicado - veja-se Crespo, 2019, cat. 42, pp. 284-289; e Körber, 2019.

Biliografia:
Crespo, Hugo Miguel, Choices, Lisboa, AR-PAB, 2016; Crespo, Hugo Miguel (ed.), A Arte de Coleccionar. Lisboa, a Europa e o Mundo na Época Moderna (1500-1800). The Art of Collecting. Lisbon, Europe and the Early Modern (1500-1800), Lisboa, AR-PAB, 2019; Chang, Julie, e Schilling, Michael R., “Reconstructing lacquer technology through Chinese classical texts”, Studies in Conservation, 61, Supplement 3, 2016, pp. 38-44; Körber, Ulrike, Schilling, Michael R., Dias, Cristina Barrocas, e Dias, Luís, “Simplified Chinese lacquer techniques and Namban style decoration on Luso-Asian objects from the late sixteenth or early seventeenth centuries”, Studies in Conservation, 61, Supplement 3, 2016, pp. 68-84; Körber, Ulrike, “Um oratório portátátil lacado chinês de estilo Namban. A Namban-style Chinese lacquered portable oratory”, in Hugo Miguel Crespo (ed.), A Arte de Coleccionar. Lisboa, a Europa e o Mundo na Época Moderna (1500-1800). The Art of Collecting. Lisbon, Europe and the Early Modern (1500-1800), Lisboa, AR-PAB, 2019, pp. 290-293.

texto de Hugo Miguel Crespo, 2022

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