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JOSÉ MALHOA - 1855-1933 "Os pretos de São Jorge" óleo sobre tela assinado e datado de 1886 Dimensões (altura x comprimento x largura) - 41 x 60 cm Notas: obra reproduzida em SALDANHA, Nuno - "José Malhoa - 1855-1933: Catálogo Raisonné". Lisboa: SCRIBE, 2012, p. 107, nº CRJM/0305.“Afina os pífare peras caixeras!”O quadro "O Bando de S. Jorge (Os Pretos de S. Jorge)", de José Malhoa“A procissão do Corpus Christi!... Onde isto vai, essa Páscoa dos bons pretinhos vestidos d’encarnado! Com que fidalgo orgulho, com que ênfase sacerdotal eles marchavam em linha, pífanos e tambores soando, rua fora, entre as colegiadas e o primeiro corcel de batalha de S. Jorge!... Lisboa era deles, e não havia ninguém que ao ver passar a procissão, cruzes sem conta, padres às grosas, e irmãos do Santíssimo aos milheiros, não exclamasse com impaciência, para os lados – que estopada! tomara já cá os pretos!”Fialho d’Almeida - "Vida Irónica (Jornal dum Vagabundo)", cap. IV, 1892Esta pintura de José Malhoa reveste-se de particular interesse por diversas razões, entre as quais, se destaca a sua originalidade, tanto no que diz respeito à obra, quanto ao assunto tratado.Apresentada pela primeira vez na sexta exposição do “Grupo do Leão” (Exposição de Arte Moderna), em 1886, volta a ser exibida no ano seguinte, por ocasião do 14º certame da então decadente Sociedade Promotora de Belas Artes.No contexto da obra de Malhoa, constitui um dos raros exemplares conhecidos da sua primeira fase, executada com apenas 30 anos, quando lutava ainda pelo reconhecimento e afirmação como artista. Ao longo da década de 80 do século XIX, o pintor ainda se encontrava muito subordinado à estética naturalista do “Grupo do Leão”, liderada por Silva Porto, e pela preeminência da temática da Paisagem. Teremos de esperar pela década seguinte, marcada pelas exposições do Grémio Artístico, para assistirmos à mutação que se opera na sua pintura, trocando progressivamente a Paisagem pela Pintura de Género. São por isso mais escassas (não obstante a sua presença em diversos certames expositivos), as obras desta temática nas primeiras décadas. Uma espécie de preparação para o estilo de sucesso que caracterizará a sua carreira, e um invulgar exemplo do interesse pelos costumes e ambientes populares lisboetas, que irá culminar no famoso quadro O Fado, já em 1910.Mas o aspecto mais relevante desta pintura recai sobre o seu conteúdo, que lhe outorga uma peculiar importância documental, cultural e etnográfica. O tema enquadra-se nas célebres procissões do Corpo de Deus (Corpus Christi) que, desde a Idade Média, animavam as ruas de Lisboa, e que se estenderam a outras cidades do continente, das ilhas (Horta, Faial), e do Brasil. A ideia terá surgido a Malhoa nas festividades que decorreram em Junho de 1885, para o que terá executado alguns estudos, um dos quais, figurando uma cabeça de negro, foi igualmente exposto em 1886.O chamado Bando de S. Jorge, ou Pretos de S. Jorge, era considerado por muitos autores e participantes das festividades, o aspecto mais decorativo da procissão, e o que mais atraía a atenção popular, como disso é exemplo o conhecido texto de Fialho d’Almeida, de 1892, então ilustrado por uma aguarela de Roque Gameiro.