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euro_symbol€ 50,000 - 75,000 Base - Estimativa
Mesa/bufete grande de centro com duplo travejamento Lusíada teca tampo e frente das gavetas com embutidos de ébano e marfim “Círculos secantes - «diaprés»", pernas e duplo travejamento espiralados com embutidos de sissó centrados a marfim, pés de «bola» em teca escurecida vertente Indo-Portuguesa séc. XVII (2ª metade) pequenos restauros, pequenas faltas e defeitos Dimensões (altura x comprimento x largura) - 81 x 134 x 105 cm Notas: segundo tradição oral familiar, a presente mesa foi oferecida pelo arcebispo de Goa a um bisavô do anterior proprietário, oficial superior e engenheiro no Estado da Índia, em meados da segunda metade do século XIX, como recompensa pelos planos por este efectuados para a renovação do paço episcopal goês. A mesa estaria guardada numa arrecadação do paço.Vd. exemplar semelhante, mas de dimensões comuns, em DIAS, Pedro – "Mobiliário Indo-Português". Moreira de Cónegos: Imaginalis, 2013, p. 196.a) Este lote está sujeito às restrições CITES de exportação/importação e encontra-se devidamente certificado: nº 25PTLX03965Cb) É actualmente proibida por diversos países a importação de bens que incorporem materiais de espécies da fauna e flora selvagens protegidas, incluindo, entre outros, marfim, coral e tartaruga;c) Em Portugal, em conformidade com a prevista transposição para a legislação nacional das mais recentes orientações da UE relativas ao comércio de marfim, está suspensa a emissão de certificados de reexportação para países que não integrem a UE;d) Neste contexto, aconselham-se os seus potenciais compradores a informarem-se previamente sobre a legislação do seu país e restrições internacionais aplicáveis.Esta impressionante mesa-bufete, de generosas dimensões, foi produzida em Goa, então sob domínio português, no século XVII. Executada em teca (Tectona grandis), parcialmente faixeada a sissó (Dalbergia latifolia) e decorada com embutidos de ébano (Diospyros ebenum) e marfim, segue um protótipo português coevo. A mesa compõe-se de tampo rectangular e cintura lisa, assente sobre suportes espiralados ligeiramente extravasados, unidos por travessas duplas e terminando em pés em bola. O tampo, formado por três largas pranchas de teca de belo grão, segue composição em tapete. O campo central é preenchido por padrão de círculos secantes - o padrão goês por excelência -, enquadrado por larga cercadura do mesmo e rematado por cercadura mais estreita também do mesmo padrão. A cintura, desprovida de gavetas como nalguns outros exemplares, segue decoração com o mesmo padrão, delimitado por molduras faixeadas em sissó, fixas por cavilhas. As pernas espiraladas e as travessas, assembladas com encaixes de furo e respiga reforçados por cavilhas, apresentam filetes de ébano embutidos em espiral, a par de pequenos círculos duplos em ébano e marfim. Os pés em bola moldurada, assim como os nós esféricos nos pontos médios das travessas, apresentam-se ebanizados. Destinadas a constituir o elemento central da decoração de interiores aristocráticos ou patrícios, estas monumentais mesas-bufete coexistiram com outros tipos de mesa mais portáteis, comuns nos interiores portugueses, como as mesas de encartar ou de engonços. A decoração embutida, com padrão de círculos secantes, de remotas origens no subcontinente indiano, a par da escolha de materiais locais, atesta de forma inequívoca a origem goesa da presente peça. Segundo tradição familiar, esta mesa de dimensões excepcionais foi oferecida pelo arcebispo de Goa ao bisavô de um antigo proprietário, engenheiro militar destacado na Índia Portuguesa no final de Oitocentos. Investigação recente permite supor que o destinatário terá sido José Frederico d’Assa Castel-Branco (1836-1912), director da Direcção de Obras Públicas de Goa e responsável pelo projecto do Palácio do Arcebispo, no Altinho, em Pangim (Nova Goa). Aprovado em 1887, durante o governo do arcebispo D. António Sebastião Valente (1846-1908), o edifício foi construído entre 1890 e 1895. Natural de Margão, Castel-Branco foi nomeado subdirector das Obras Públicas em 1879, assumindo a sua direcção em 1888, tendo projectado diversos edifícios públicos em Pangim, entre os quais os Correios, o Observatório Meteorológico e a própria sede das Obras Públicas. Exerceu também funções docentes na Escola Mathematica e Militar de Goa, no Instituto Profissional de Nova Goa e no Liceu de Goa (1887-1906). Castel-Branco aposentou-se com o posto de general em 1901 e deixou as Obras Públicas em 1905. A presente mesa terá sido então oferecida pelo arcebispo Sebastião Valente a José d’Assa Castel-Branco por volta de 1890, em reconhecimento dos seus serviços como engenheiro.A cronologia desta oferta ajuda a explicar as antigas intervenções de restauro visíveis na mesa, entre as quais se destacam os reforços metálicos em latão e as réguas de madeira aplicadas no verso do tampo, talvez aquando da perda das gavetas originais. Um exemplar comparável, embora de menores dimensões um pouco mais recuado (86,5 x 132,5 x 97,7 cm), com duas gavetas, pernas direitas e a mesma decoração de círculos secantes, integra o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa (inv. 10 Mov). Outro, numa colecção particular, de dimensões ainda mais reduzidas (65,0 x 69,5 x 47,0 cm) e também provido de gavetas, apresenta pés espiralados e extravasados, pés em bola ebanizados e nós esféricos nas travessas idênticos aos desta mesa. Excepcional pela imponência das suas dimensões - já que mesas deste tipo por regra não ultrapassam os 150 cm de comprimento - e a sofisticação das pernas espiraladas, o exemplar aqui apresentado distingue-se não apenas pela qualidade da sua execução, mas também pela sua proveniência, testemunho não apenas da mestria artesanal goesa como também do gosto das elites da sociedade colonial portuguesa.1) Sobre esta produção goesa, veja-se Hugo Miguel Crespo, A Índia em Portugal. Um Tempo de Confluências Artísticas (cat.), Porto, Blueboook, 2021, pp. 115-120. 2)Veja-se Alice Santiago Faria, Architecture Coloniale Portugaise à Goa. Le Département des Travaux Publics, 1840-1926, Saarbruchen, Presses Académiques Francophones, 2014.3) Pedro Dias, Mobiliário Indo-Português, Moreira de Cónegos, Imaginalis, 2013, p. 195Hugo Miguel Crespo, Agosto de 2025