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euro_symbol€ 40,000 - 60,000 Base - Estimativa
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Contador de seis gavetas simulando nove, com trempe Lusíada teca marchetaria de ébano e sissó, marfim, marfim e osso tingido de verde, teca e sândalo "Vasos com flores", reservas "Cubos perspectivados", trempe com duas gavetas e duplo travejamento com pernas esculpidas "Nagas" com caras e peitos de marfim, aplicações em cobre dourado vertente de influência Mogol séc. XVI/XVII restauros Dimensões (altura x comprimento x largura) - 102,3 x 58,5 x 36,5 cm Notas: a) Este lote está sujeito às restrições CITES de exportação/importação e encontra-se devidamente certificado: nº 23PTLX12545C;b) É actualmente proibida por diversos países a importação de bens que incorporem materiais de espécies da fauna e flora selvagens protegidas, incluindo, entre outros, marfim, coral e tartaruga;c) Em Portugal, em conformidade com a prevista transposição para a legislação nacional das mais recentes orientações da UE relativas ao comércio de marfim, está suspensa a emissão de certificados de reexportação para países que não integrem a UE;d) Neste contexto, aconselham-se os seus potenciais compradores a informarem-se previamente sobre a legislação do seu país e restrições internacionais aplicáveis."Este raro contador sobre trempe de teca (Tectona grandis) faixeada a sissó (Dalbergia latifolia) e ébano (Diospyros ebenum) deve, dadas as suas pequenas dimensões, ter sido utilizado colocado sobre um estrado. É decorado com embutidos de sissó, ébano, madeira exótica, marfim e osso tingido de verde fixos com pinos de latão; a sua rica decoração ainda mais sublinhada pelas copiosas ferragens de cobre dourado recortadas e vazadas e pelas tachas hemisféricas que decoram os entrepanos tanto do caixote como das gavetas da trempe. O caixote apresenta seis gavetas (simulando nove por uma questão de simetria), dispostas em três fiadas, cada uma com seu próprio espelho de fechadura recortado e vazado, e duas pegas e seus espelhos vazados dispostos em cada lado. A trempe apresenta duas gavetas.A decoração embutida em tapete consiste em plantas floridas dispostas em simetria com cercaduras de rosetas de quatro pétalas. Os campos centrais das ilhargas e topo incluem o típico padrão de cubos isométricos alternando ébano, marfim e osso tingido de verde. À excepção da cercadura de rosetas igual à das restantes faces, o tardoz não é decorado, exibindo os belos veios do sissó; seria portanto um móvel de encostar à parede. A estrutura prismática da trempe com seu travejamento duplo apresenta também friso de rosetas alternadas. As pernas são cobertas nas faces dianteiras por elemento estilizado em forma de Nāgiṇī, integralmente em ébano com embutidos de marfim, sissó, madeira exótica e osso tingido de verde, representadas com a cabeça e o tronco de uma mulher tocando os seios (fertilidade) e a parte inferior do corpo como que serpente. Os rostos das Nāgiṇī são delicadamente entalhados em marfim, em contraste com o ébano, assim como os seios em forma de botão. Nāgiṇī é a versão feminina de Nāga, palavra sânscrita para divindade ou tipo de entidade sobrenatural com a forma de uma grande serpente. Na cultura religiosa hindu, os nagas são considerados espíritos da natureza intimamente ligados à água, rios, lagos e mares, sendo protectores de nascentes, poços e rios, propiciando chuva e, assim, a fertilidade. São ainda hoje objecto de grande reverência cultual especialmente no sul da Índia e, em particular, cultuados por mulheres enquanto como divindades femininas, trazendo fertilidade e prosperidade às suas devotas - veja-se Oldham (1901). As Nāgiṇī cumprem uma função apotropaica; para afastar o mal e proteger os objectos valiosos custodiados no seu interior, como dinheiro, documentos, jóias e objectos preciosos.Como é de regra quanto à produção de mobiliário na Índia sob encomenda portuguesa, este tipo de contador apresenta forma e origem europeia, copiando as peças de mobiliário trazidas para a Ásia pelos portugueses, enquanto a sua exuberante decoração, em claro horror vacui, a par das intrincadas ferragens de cobre dourado recortadas e vazadas, é de origem indiana local. Trata-se de um verdadeiro exemplo da síntese cultural e artística que teve lugar após a chegada dos portugueses à Índia. Dado que a documentação portuguesa do século XVI refere a aldeia de Taná - hoje parte da cidade de Mumbai (Bombaim) -, na qual floresceu uma grande comunidade de artesãos muçulmanos, como origem de preciosos móveis marchetados, é muito provável que o centro de produção deste contador de mesa seja precisamente Taná, então parte da Província do Norte do Estado Português da Índia - veja-se Mendiratta (2014). Este precioso contador sobre trempe pertence a um excepcionalmente raro grupo de peças de mobiliário mais recuado produzido para o mercado português e identificado apenas recentemente quanto à sua origem geográfica, fontes decorativas de inspiração (iranianas, otomanas e europeias) e contexto histórico de produção - veja-se Crespo (2016), pp. 136-171, cat. 15; Crespo (2021), pp. 88-104; e Crespo (2024)."Bibliografia:Hugo Miguel Crespo, Choices, Lisboa, AR-PAB, 2016; Hugo Miguel Crespo, A Índia em Portugal. UmTempo de Confluências Artísticas. India in Portugal. A Time of Artistic Confluence (cat.), Porto,Bluebook, 2021; Hugo Miguel Crespo, Da Província do Norte. Marchetados e Acharoados da ÍndiaPortuguesa. From the Northen Province. Marquetries and ‘Lacquerware’ from Portuguese India, Lisboa,São Roque, Antiguidades & Galeria de Arte, 2024; Sidh Losa Mendiratta, “Two Towns and a Villa.Baçaim, Chaul and Taná: The Defensive Structure of Three Indo-Portuguese Settlements in NorthernProvince of the Estado da Índia”, in Yogesh Sharma, Pius Malenkandathil (eds.), Medieval Cities inIndia, New Delhi, Primus Books, 2014, pp. 805-814; Charles F. Oldham, “The Nāgas. A Contribution tothe History of Serpent-Worship”, The Journal of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland33 (1901), pp. 461-473Hugo Miguel Crespo, Agosto de 2024