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JOSÉ DE AVELAR REBELO - c. 1600-1657 Adoração dos Magos óleo sobre tela reentelado, restauros, pequenas faltas na camada pictórica assinado e datado de 1651 Dimensões (altura x comprimento x largura) - 55,5 x 35,5 cm Notas: "Era absolutamente desconhecido nos registos da História da Arte portuguesa este painel de restritas dimensões da autoria do pintor régio José do Avelar Rebelo, que se mantinha ignorado dos estudiosos. Representa a Epifania e está assinado Avellar f. 1651. O artista, que foi pintor régio de D. João IV e um dos nomes mais destacados da chamada "primeira geração proto-barroca" portuguesa (juntamente com André Reinoso e Baltazar Gomes Figueira), mostra nesta pintura todas as suas qualidades de desenho e pessoalismos de estilo, na senda de uma linguagem naturalista já sem laivos da anterior tradição maneirista. Por esta pequena obra, que chegou até nós em apreciável estado de conservação, se percebe o louvor unânime dos seus contemporâneos e do próprio D. João IV, «que folgava muito conversar com elle», segundo se diz no tratado de Félix da Costa Meesen. O rei, que ia por vezes vê-lo trabalhar e o considerava «pintor de genio», quis honrá-lo com o Hábito de cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis, em 1655 por «ser o milhor pintor do seu tempo» e para que «outros à sua imitação o sigam». Esta última afirmação do alvará régio é deveras interessante, sabendo-se o modo como os bons pintores da segunda metade do século XVII,sobretudo Bento Coelho e também Marcos da Cruz, se formaram no estudo das obras de Avelar, retomando-lhe soluções e modelos.O tema representado, que mostra aliás uma forte e inesperada influência rubensiana, foi tratado por Avelar noutras obras, uma delas merecedora de um poema laudatório do seu amigo Frei Tomás Aranha (orador e poeta dominicano que já em 1644 escrevera um sermão de elogio à arte da Pintura). O poema, dedicado a um quadro de Avelar com a mesma cenados Reis Magos, que D. João IV lhe tinha encomendado, diz o seguinte: «Soberano pinzel / tu te condenas / A não pintar jamais, pois que chegaste / Rei dos pinzeis, nos Reis, que nos mostraste / Onde chega o juizo humano apenas. / Das linhas de Protogenes ordenas / Grossos cordeis, nas linhas que lançaste / E em garrote d'invejas lhe trocaste / O sutil, em borrões, a gloria, em penas. / Tudo contemplo Trino em teus primores: / Painel de tres, Pintor, Rei, verdadeiro / Monarcha, em te occupar, contigo humano, / Elle imita tres Reis, tu tres pintores, / Elle Affonso, Manuel, & João Primeiro, / Tu, Miguel, Raphael, & Ticiano». É difícil, de facto, escrever-se maior elogio poético a um pintor e a um quadro, como este em que, com barroquizante mas justificável exagero, se compara Avelar a Rafael, a Miguel Ângelo e a Ticiano! Outro inflamado poeta das academias da época da Restauração, António Leitão de Faria,fala também de Avelar (e Reinoso) numa recolha de poesia de 1706, neste encomiástico louvor: «...Pare, pois, a Fama os voos e suspenda as vozes com que engrandece e louva por todas as partes do mundo, por todos os climas do universo, os quadros e as obras de Amplino, de Aristides, de Ardeas, de Asclopiodoro, de Persico, de Euricledes, de Niceas, de Timantes, de Ticiano, de Reinoso e de Avelar e, finalmente, cessem esses varões que a fama canta, que outro valor mais alto se levanta»... A composição, dentro dos cânones do Naturalismo proto-barroco em que se insere (e que era o gosto dominante na pintura portuguesa destes anos de crise, devido às guerras com Castela), atesta evidentes méritos de desenho, com sentido largo dos espaços da composição, boa relação de planos e, sobretudo, excelente modelação de figuras, com cabeças, poses e gestos muito expressivos. A composição deve tomar inspiração num gravado de Lucas Vorstermann segundo Rubens. Já em termos cromáticos, porém, a tela carece daquela fresca tonalidade luminosa de Reinoso (veja-se a tão zurbaranesca Adoração dos Magos de São Roque), sendo o registo cromático de Avelar Rebelo mais marcado por um tenebrismo de raiz nórdica, que se acentua em especial nesta tela dada a influência do modelo de Rubens. Trata-se de uma das melhores peças de Avelar no campo da arte sacra (a par de O Menino entre os Doutores da igreja de São Roque, do óptimo São Jerónimo no gabinete de trabalho do mosteiro dos Jerónimos, das telas do tecto do coro alto do mosteiro da Madre de Deus, e da Conquista de Lisboa da igreja de Pias, Ferreira do Zêzere), não se esquecendo que ele foi, também, um bom retratista de corte, fixando a imagem de alguns dos detentores do novo poder, como o retrato do célebre músico Rebelinho, e como os que fez do seu rei (Paço de Vila Viçosa e Museu dos Coches). Ignora-se a origem do quadro. Pela suas temática, dimensões e cronologia, é muito possível que esta tela fizesse parte de um retábulo destinado a um oratório privado, de clientela cortesã. Quem sabe se integrava o mesmo altar de temário mariano a que pertenceu uma tela da Circuncisão do Menino (que não só mede 55 x 35 cm como está, também, assinada Avellar f. 1651): essa pintura, cujo estado de conservação mostra maior desgaste e perda de valores, tem igualmente muito interesse histórico-artístico e foi transaccionada há poucos anos no mercado antiquário (Oportunity Leilões, Cascais, lote 5147)."Vítor SerrãoHistoriador de ArteA Cabral Moncada Leilões regista e agradece a disponibilidade do Professor Doutor Vítor Serrão o texto e enquadramento da presente pintura.