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cÍrculo de frei carlos - séc. xvi,
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ossa
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enhora do
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eite
,
óleo sobre madeira,
escola portuguesa, séc. XVI (c. de 1510-1520),
restauros, vestígios de insectos xilófagos
Dim. - 91 x 30 cm
€ 50.000 - 75.000
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ady of the
M
ilk
,
oil on board, Portuguese school, 16th C. (circa 1510-1520),
restoration, traces of wood insects
O primeiro mestre dos chamados pintores “luso-flamengos”
foi Francisco Henriques (act. 1506-1518), cujo trabalho é reconhecível
no retábulo da Sé de Viseu e documentado no retábulo de S. Francisco
de Évora e nos grandes painéis executados para as capelas laterais da
mesma igreja. Henriques foi um dos pintores preferidos de D. Manuel
e enraizou-se na sociedade portuguesa casando com uma irmã do pintor
régio Jorge Afonso. Em 1512, a mando de D. Manuel, Francisco
Henriques deslocou-se à Flandres para recrutar mais pintores que
pudessem satisfazer as cada vez maiores empreitadas régias. Dos
pintores que vieram com ele para Portugal alguns morreriam com
Henriques durante as obras do Tribunal da Relação de Lisboa, em 1518,
atingidos pela peste, e a sua actividade é pouco discernível do ponto
de vista individual, mas a sua influência sobre a pintura portuguesa
é notória dando origem precisamente ao ciclo que podemos designar
como luso-flamengo e que marca sobretudo a segunda década do século
XVI. Apenas dois desses mestres flamengos têm uma actividade
discernível entre os seus pares, o anónimo mestre que conhecemos
pelo nome convencional de Mestre da Lourinhã, que executou entre
outros os retábulos de Palmela, de Vale Bem Feito e colaborou no
retábulo do Funchal, e Frei Carlos, que em 1517 professou no Convento
do Espinheiro e entre essa data e a sua morte, cerca de 1540, executou
para os Jerónimos diversas obras. Foi a este último que Luis Reis Santos
chegou a atribuir esta pintura, com cujo círculo tem notórias
actividades, se bem que a escala grande da figura lembre mais
certas obras de Henriques.
O que me parece certo é que se trata de uma pintura claramente
integrável nos mestres “luso-flamengos”, com a sua técnica
característica, menos presa aos detalhes realistas do que a escola de
Lisboa e com uma técnica própria que podemos observar com rigor no
mais prolífico dos seus mestres, precisamente Frei Carlos. Pelo formato
do painel e a sua composição, talvez se trate da aba esquerda de um
tríptico. Apesar dos restauros, em zonas onde sofreu de lacunas, a
pintura é um testemunho importante de uma das mais brilhantes fases
da nossa pintura e a figura da Virgem tem evidente elegância na sua
beleza idealizada e no colorido vibrante dos seus panejamentos.
Joaquim Oliveira Caetano
Curador e Historiador de Arte
Bibliografia:
COUTO, João - “A Pintura Flamenga em Évora no século XVI. Variedade
de estilos e técnicas na obra atribuída a Frei Carlos”. Évora: 1943.
COUTO, João - “A oficina de Frei Carlos”. Lisboa: Artis, 1955.
AA.VV. - “Os Primitivos Portugueses 1450-1550. O Séculos de Nuno
Gonçalves”. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga/ Athena, 2010.
CARVALHO, José Alberto Seabra (dir.) - “O Frei Carlos da América.
Investigação e Crítica”. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 2013.
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cabral moncada leilões 179
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30 de Maio