Leilão 192 - page 108

cabral moncada leilões 192 | 26 de Fevereiro de 2018
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ÁlVArO pires de ÉVOrA
ACT
. 1411-1434
s
ãO
c
Osme
escola italiana, têmpera e folha de ouro sobre madeira,
escola italiana, restauros
Dim. - 28 x 21,5 cm
€ 35.000 - 52.500
Nota: Bem em vias de classificação, insusceptível de exportação
– Procedimento administrativo de classificação da pintura “São Cosme”,
da autoria de Álvaro Pires de Évora.
Através do ofício DPIMI/2018/H (01) CSP: 169110, de 30.1.2018 a Direcção
Geral do Património Cultural notificou a Cabral Moncada Leilões de que,
por despacho de 29.1.2018, foi determinada a abertura do
Procedimento Administrativo de Classificação da pintura em causa.
Estando em vias de classificação a pintura fica sujeita às restrições
estabelecidas na legislação aplicável, para que se remete, chamando-se
a atenção em particular para a insusceptibilidade da sua exportação.
Um São Cosme de Álvaro Pires de Évora
Álvaro Pires de Évora foi um pintor português documentado na região da Toscana,
em Itália, entre 1411 e 1434. A primeira data corresponde à sua documentada
integração num grupo de pintores florentinos encarregados de pintar a fachada
do palácio del Ceppo, em Prato, pertencente ao mercador e banqueiro Francesco
Datini. A segunda data corresponde à inscrição no retábulo do Museu de Brawnschweig
e é a mais avançada referência à sua obra. Quase sem documentos conhecidos
sobre a sua atividade, a biografia deste pintor decorre das pouco mais de 30
pinturas que lhe estão atribuídas, onde se inclui o retábulo da igreja de Santa
Croce de Fossabanda, próximo de Pisa, que assinou “ALVARO PIREZ DEVORA
PINTOV”. É por esta assinatura, e pela curta referência biográfica de Giorgio Vasari
(1550) que o nomeia como “Alvaro di Piero di Portogallo”, que conhecemos
a naturalidade de Álvaro Pires, português de nascimento, mas artisticamente
enquadrado na pintura italiana.
Numa altura em que a pintura apenas despontava em Portugal, não se sabe
a razão que levou Álvaro Pires a demandar Itália. Sabemos no entanto que
D. João I teve ao seu serviço um pintor florentino, António Florentim,
e que um pintor formado entre os continuadores de Giotto, Gherardo Starnina,
trabalhou em Castela e emValência no fim do século XIV. A hipótese de Pires ter
acompanhado Starnina no seu regresso a Itália, em 1401, tem sido considerada,
mas também já foi colocada a possibilidade do pintor de Évora ter sido
originalmente um ourives que se veio depois a tornar pintor, hipótese sustentada
pela variedade e grande qualidade com que usa o punção sobre os fundos de folha
de ouro. Pintando nas vésperas do Renascimento florentino, Álvaro Pires é ainda
um pintor muito mais sensível aos ecos do Trecento italiano, com marcadas
influências de Orcagna, de Starnina e de Turino Vanni. Apesar de formalmente ser
um pintor claramente italiano, não deixa de ser o primeiro pintor nascido em
Portugal a quem podemos seguramente atribuir uma obra artística.
A pintura agora em leilão foi autenticada por Frederico Zeri, um dos maiores
especialistas da obra de Pires, e está referenciada no mercado de antiguidades
londrino em 1977, altura em que pertencia ao antiquário Rafael Valls.
Originalmente formava, com grande probabilidade, par com um São Damião, das
mesmas dimensões, que se sabe ter pertencido à coleção T. Laurin de Estocolmo,
foi depois vendido na Sotheby’s de Londres em 24 de Junho de 1970
e no ano seguinte estava nos antiquários Grassi, de Florença,
desconhecendo-se o seu atual paradeiro.
Álvaro Pires pintou, pelo menos por três vezes, pares destas lunetas com os dois
santos médicos Cosme e Damião, que coroavam painéis laterais de retábulos,
normalmente dedicados à figuração de santos. O exemplar que se conserva íntegro
existe na Pinacoteca e Museu Cívico de Volterra, com a Virgem com o Menino num
maior painel central e dois painéis laterais com pares de santos, sobre os quais se
situam as lunetas com os Santos Cosme e Damião. Outro retábulo,
desarticulado, conserva-se na sua maior parte no Lindenau Museum de Altenburg,
na Alemanha. Deste conjunto existem no museu os painéis laterais,
um com os Santos Paulo e João Baptista e outro com os santos Pedro e André
e um dos pequenos tondi representando São Cosme, muito semelhante à obra
agora a leilão. É provável que tenha pertencido ao mesmo retábulo um outro
São Damião, cujo paradeiro se desconhece, mas do qual existe uma reprodução
na fototeca da Fondazione Zeri da Universidade de Bolonha (nº 11011).
Em todas estas representações dos Santos Cosme e Damião, Álvaro Pires
utilizou o mesmo modelo masculino, com a mesma forma de rosto a ¾,
com pouca barba, nariz direito e olhos rasgados, o mesmo tipo de
vestido, de um vermelho pálido alaranjado, o mesmo barrete caído com
um revirado de segmentos de pelo branco, e a mesma aureola larga
decorada com a marcação de punção. Klara Steinweg ligou estas
representações dos Santos Médicos à estadia de Álvaro Pires em Volterra,
onde o seu culto estava enormemente difundido. Álvaro Pires está
documentado nessa cidade em 1423, data à volta da qual devemos situar
este painel de São Cosme, quer pelo motivo invocado por K. Steinweg,
quer pelo estilo, de pinceladas finas justapostas, criando modelações
de sombra com rápidos e finos traços de pincel de diferentes tonalidades,
técnica que podemos apreciar nesta obra e é característico da fase de
maior maturidade do pintor.
Joaquim Oliveira Caetano
Historiador de Arte e Conservador
A Cabral Moncada Leilões regista e agradece ao Doutor Joaquim Oliveira
Caetano o seu contributo para a descrição e enquadramento desta obra.
s
Aint
c
OsmAs
tempera and gold leaf on wood, Italian school, restoration
Please note that this painting cannot be exported being in course
the correspondent National Cultural Heritage classification process.
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