Leilão 174 - page 434

738
t
aça para vinho em forma de barCa
,
madrepérola «Turbo Marmoratus», extremidades recortadas
em forma de cabeças de elefante,
Guzarate - Índia Mogol, séc. XVI (2ª metade),
pequenos defeitos e pequeno restauro
com reforço interior de prata
Dim. - 8 x 17,5 x 7,5 cm
€ 20.000 - 30.000
Nota: “Taça globosa em forma de barca, constituída por duas calotes
ovóides de madrepérola de turbomarmuratus, unidas por placas
rectangulares. Bordo com fino perlado terminando em cabeças
de elefante. Assentam sobre bases ovaladas. O encanto destes preciosos
objectos reside, não só na beleza natural do material que as
constituem, mas sobretudo na forma de barca exótica, terminando em
duas cabeças de elefante com a simbólica tromba para cima, augurando
boa-sorte para quem beber daquela taça. O perfil em forma de barco
carrega um grande simbolismo e profundo respeito pelos povos
ancestrais de origem chinesa. Segundo o famoso poeta Tao Yuanming,
que viveu durante a dinastia Jin (265-420), deve-se a um povo já
desaparecido, oriundo das montanhas Wuling do norte da China que são
atravessadas por densos rios, sua fonte de sobrevivência, “…viviam na
água e morriam nos barcos.” Assimilado por outros povos, era usada no
séc. XVI, nomeadamente pelos Imperadores Safávidas e da India Moghol
e mais tarde pelos sultões do Decão, como taça para beber vinho.
Também os mendigos usavam recipientes com esta forma
de barco (Kashwar), de maiores dimensões e em metal, para pedirem
na rua. Embora se conheçam vários destes recipientes em metal
e em jade (cf. EXOTICA), são extremamente raras as taças de vinho
de madrepérola: há referência na literatura à sua existência, mas
em toda a pesquisa que fizemos não conseguimos identificar nenhuma
nas mais importantes colecções mundiais.
Do elevado apreço da Europa de então por estes artefactos feitos
de materiais raros e exóticos como o coco, o coral, a madrepérola
ou a tartaruga, resultou a sua integração em grandes colecções reais
e das cortes europeias, reflectindo o status, o poder e a personalidade
do seu possuidor. Satisfazendo a ânsia de coleccionar raridades
preciosas e exóticas, estes objectos eram avidamente procurados
e cobiçados para as conhecidas Câmaras de Maravilhas pelos grandes
coleccionadores europeus. Não só ilustravam as maravilhas naturais
do universo como se acreditava possuírem propriedades medicinais
e virtudes mágicas. O Humanismo Renascentista alegoricamente
associava a espiral da concha turbo à força da Natureza, como
elemento de crescimento e à dimensão do tempo. Marmoratus turbo,
ou turbante em mármore é uma grande espécie da marinha gastrópode,
que vive em grandes recifes tropicais no Índico e Pacífico.
A sua misteriosa origem, o seu formato raro, o simbolismo que lhe
é atribuído, os poderes afrodisíacos, e a sua forma de cavidade oca,
fizeram dela o recipiente por excelência para beber o vinho, num
período em que era estranha a variedade existente em taças e copos,
que faziam parte dos utensílios privados da aristocracia, quer para
ostentação, quer para dias de cerimónia ou para acolhimento
de convidados especiais.”
Teresa Peralta, Historiadora
Bibliografia: “Presença Portuguesa na Ásia”, Museu do Oriente, p. 71.
“The Arts of Islam”, J. M. Rogers, p. 35.
a b
oat shaped
w
ine
C
up
,
mother-of-pearl «Turbo Marmoratus», scalloped edges shaped
like elephant heads, Mughal Empire, India, 16th C. (2nd half),
small defects and small restoration with silver reinforcement
of the interior
1...,424,425,426,427,428,429,430,431,432,433 435,436,437,438,439,440,441,442,443,444,...676
Powered by FlippingBook