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Diogo pereirA - ACT. C. 1630-1658,
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oDomA ABrASADA
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SuA mulher e FilhAS
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óleo sobre madeira, pequenos defeitos no suporte, não assinado
Dim. - 29 x 40 cm
€ 2.000 - 3.000
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oil on board, small defects, unsigned
Nota: deve-se ao Prof. Doutor Vitor Serrão a atribuição desta obra
inédita a Diogo Pereira - um autor cuja vida e obra foi objecto de
diversos estudos por parte daquele investigador, de que destacamos os
seguintes trabalhos: “Rouge et or: Trésors du Portugal Baroque”, catálogo
da exposição realizada no Musée Jacquemart - André, em Paris, de
Setembro de 2001 a Fevereiro de 2002. Lisboa: Ministério da Cultura /
Gabinete das Relações Internacionais, 2001.
“Diogo Pereira e a Pintura de Temário Histórico-Mitológico no Portugal
Proto-barroco”. Sumário e Plano de Aula Especializada para efeitos de
Prova de Agregação. Texto policopiado]. Lisboa, Outubro de 2001.
“O mito do herói redentor: a representação de Eneias na pintura do
Portugal restaurado”, in “Quintana”, nº 1 (2002). ISSN 1579-7414, pp.
71-81, de que citamos: “Sabemos que a pintura portuguesa de temática
histórico-mitológica recebeu tratamento singular durante os anos de
Seiscentos, mas não são claros os motivos explícitos que justificam que
fosse precisamente a figura do herói Eneias a constituir o tópico
privilegiado desse género pictural. O artista mais destacado a tratar
este temário foi Diogo Pereira, famoso como pintor de Tróias, Sodomas
e outros temas histórico-alegóricos que faziam as delícias do mercado
erudito, que se documenta em actividade em Lisboa entre 1630 e 1658,
data do seu falecimento, em situação que se diz de pobreza. [...]
A minúcia do seu pincel, as qualidades do desenho e da mancha agitada
das cenas, o dramatismo e tensão das catástrofes representadas com
força do colorido em gradações de tinta, o delírio fantasista das
arquitecturas dos fundos, o engenho das “rovine” abrasadas e das
atmosferas de labirinto, tributam ao português Pereira um papel ímpar
no contexto internacional do Seiscentos [...] Observa-se que as “Tróias”
de Diogo Pereira faziam geralmente par com a cena de “Sodoma
abrasada”, ou seja, a fuga de Loth, o justo, e de sua mulher e filhas,
aquando da destruição das cidades ímpias pelos anjos castigadores,
tema que de novo nos coloca num quadro parangonal entre o
velho/novo (o tempo do pecado e o tempo da redenção), o
prémio/castigo (a transformação da mulher de Loth, a descrente,
em estátua de sal), o puro/ímpio (a fuga dos justos, poupados pelos
anjos-de-fogo à destruição da cidade). Esta relação entre os temas Tróia
- Sodoma melhor vem confirmar a sedução que estes públicos letrados
do século XVII deviam sentir por uma pintura inter-textual, sedutora
nas suas leituras simbólicas e nos seus heterogéneos significados
políticos e morais.”
A Cabral Moncada Leilões agradece ao Prof. Doutor Vitor Serrão
a disponibilidade para identificar a obra e para fornecer estas
informações, bem como a permissão para a sua divulgação.