O primeiro valor indicado em euros corresponde à reserva contratada com o proprietário
cabral moncada leilões
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ATRIBUÍVEL AO MESTRE DO RETÁBULO
DE SÃO CRISTOVÃO - ACT. 1540-1560
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óleo sobre madeira de carvalho,
escola portuguesa, séc. XVI, pequenos restauros
A presente pintura representa um dos passos da vida e lenda de São Roque
– “Estadia em Piacenza e retiro na floresta”.
Terá muito provavelmente integrado originalmente um retábulo que incluiria
mais três pinturas – à semelhança de um outro, anterior, também dedicado
a São Roque, produzido cerca de 1520, que integrou a primitiva ermida
de São Roque, em Lisboa, erigida em 1515, no local onde actualmente
se encontra a Igreja de São Roque, da Companhia de Jesus, em Lisboa,
e que se conserva hoje no Museu de São Roque.
À semelhança do retábulo do Museu de São Roque, também este seria
composto por quatro pinturas representando sucessivamente a “Natividade
e adolescência de São Roque”; a “Cura miraculosa do Cardeal
e o reconhecimento do Papa”; a “Estadia em Piacenza e retiro na floresta”;
e a “Prisão e morte beatífica de São Roque”.
Deste retábulo só se tinha conhecimento, até agora, da existência
de um dos passos – a “Prisão e morte de São Roque” – que se conserva
no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa (Inv.º n.º 1900 Pint.) e que,
tendo entrado no Museu em 1912, proveio certamente do conjunto dos bens
da Igreja nacionalizados pelo Governo da República em 1911.
A pintura em causa, considerada em conjunto com a do MNAA, indicia
a existência de um segundo retábulo dedicado a São Roque, mandado executar,
algumas décadas mais tarde, para local até agora desconhecido.
São Roque nasceu em Montpellier entre 1346 e 1350, tendo falecido na sua
cidade natal ou, segundo outros, em Voghera (Lombardia) entre 1376 e 1379.
Taumaturgo e Santo da Igreja Católica foi sobretudo invocado como protector
contra a peste e padroeiro dos inválidos e dos cirurgiões, sendo venerado desde
o final da Idade Média. A sua vida foi difundida através de duas biografias
redigidas no final do século XV – “Vita Sancti Rocchi”, Veneza, 1478,
da autoria de Francesco Diedo e “Vie, légend, miracles et orasion de Mgr Saint
Roch”, Paris, 1494, da autoria de Jean Phelipot. Em Portugal, a mais antiga
representação conhecida são as quatro tábuas do Museu de São Roque.
Em cada uma delas, engenhosamente, o seu autor colocou dois trechos da vida
de São Roque. Trata-se de uma obra filiável na pintura portuguesa do primeiro
quartel do século XVI, ainda presa a modelos tardo-medievais.
Nas duas tábuas que se conhecem deste segundo retábulo – a do MNAA
e aquela de que tratamos – a temática é tratada da mesma forma, havendo
razões para se poder afirmar que o pintor do segundo retábulo terá conhecido
o primeiro e nele se terá inspirado, tendo José Alberto Seabra Carvalho
realçado, relativamente à primeira, “… a circunstância de ela transpor com
extrema fidelidade a composição do quarto painel da série da lenda de S. Roque
da antiga Ermida manuelina”. No entanto, longe de o copiar, o artista
do segundo retábulo, pintado em meados do século XVI, modernizou a
representação das personagens e dos cenários, actualizando-os para um gosto
renascentista típico do reinado de D. João III (1502-1521-1557). Representam
ambos um dos passos da vida de São Roque – “Estadia em Piacenza e retiro
na floresta”: num primeiro momento, São Roque, confrontado com um surto
de peste, dedica-se às suas vítimas; contagiado pela doença, é forçado
a retirar-se da enfermaria de pestíferos. Num segundo momento, São Roque
é representado na floresta, onde foi curado por um anjo, que lhe aplicou
nas feridas um bálsamo milagroso, e alimentado por um cão, que diariamente
lhe levava um pão, estando igualmente acompanhado por um benfeitor cuja
identidade é, ainda, desconhecida. De acordo com o Prof. Doutor Vítor Serrão,
o presente painel será inédito e o seu autor é um mestre anónimo, considerado
seguidor de Garcia Fernandes e seu discípulo, conhecido por Manuel André,
que também se poderá designar por Mestre do Retábulo de São Cristóvão,
activo em Lisboa entre 1540 e 1560, e, como tal, contemporâneo de Diogo
de Contreiras e de Garcia Fernandes. São-lhe igualmente atribuídas as tábuas
do antigo retábulo da igreja de São Cristóvão de Lisboa (em depósito
nas reservas M.N.A.A.), três outras pinturas vindas do convento do Carmo,
em Moura, uma série de tábuas existentes no Museu de Óbidos
(“Calvário”, “Virgem com o Menino Jesus” e duas predelas “Santos”),
um quadro em colecção particular “Virgem com o Menino e Sant’Ana”,
além de uma “Morte da Virgem”, igualmente existente numa colecção particular.
A Cabral Moncada Leilões regista e agradece a disponibilidade e o apoio dos
Doutores Vítor Serrão, José Alberto Seabra Carvalho e Joaquim Oliveira Caetano.
MASTER OF THE SAINT CHRISTOPHER RETABLE (ATTRIBUTED)
“Saint Roch - Stay in Piacenza and forest retreat”
oil on board, Portuguese school, 16th C., small restorations
Notes: this painting depicts one of the steps of the life and legend of St. Roch
- “Stay in Piacenza and forest retreat.”
Dim. - 144 x 106 cm € 40.000 - 60.000